O tradutor concebido por Pessoa não pode ter complexos a respeito dos supostos déficits, ou perdas, ou meras duplicações da tradução, nem sentir-se em posição subalterna em relação ao autor traduzido. Se à partida o texto a traduzir se lhe impõe como modelo, logo ele o remodela ou modeliza e o anula como modelo sobrepondo-lhe outro modelo, o seu, de que aquele pode passar também a depender como de um investimento. O bom tradutor não copia para outra língua, porque cria ou recria noutra língua.
Arnaldo Saraiva