Filhos sem Deus

Este não é um livro sobre a existência de deus. Há muitos trabalhos que discutem os prós e os contras da religião, os prós e os contras do ateísmo. Este livro aborda as questões que surgem na criação dos filhos quando os pais são ateus, ou seja, a perspectiva de duas pessoas que não crêem em deus ou, de modo ainda mais claro e categórico, sabem que deus não existe, que a existência de deus é algo do plano das ideias – que deus é uma ideia que muitas pessoas têm, mas, de forma alguma, uma existência plena ou real.
Não se trata de agredir ou desqualificar aqueles que baseiam sua visão do mundo na existência de deus, mas de abrir um espaço de legitimidade e elaboração para aqueles que, como nós, os autores deste livro, vivem numa zona social pouco compreendida, o ateísmo, abordando problemas que costumam ser negligenciados.
Respeitar não é cercear a capacidade de dar respostas a perguntas que poderiam manifestar diferenças, deixando na indefinição aspectos importantes da construção de sentido. Respeitar não é tampouco fingir ter uma posição que não se tem. Para um ateu, respeitar o crente é entender que o outro pode ter uma resposta diferente. E o mesmo vale para um crente. Respeitar a diferença, conviver com ela, não quer dizer que alguém deva limitar sua forma de ver e entender o mundo, mas que é legítimo torná-la o mais clara possível.
Mas e o que dizer quando nosso filho nos pergunta se deus existe, uma vez que somos ateus mas sabemos que o mundo ao redor dele não o é? Queremos respeitar seu discernimento, abrir espaço para sua posição pessoal.
Este livro é uma experiência. Nós, Alejandro e Ximena, estamos casados há sete anos e temos dois filos, Andrés, de quatro anos, e Bruno, de uma ano e meio. Somos ateus. Não somos inimigos da religião, mas acreditamos que a melhor opção de vida é encarregar-se de si próprios, e vemos que as religiões não fomentam essa atitude nem essa consciência. A experiência que fazemos ao escrever este livro é a de produzir para nosso diálogo constante um novo formato, pouco habitual numa relação de casal – o de um livro escrito em comum -, numa conversa franca sobre como ajudar nossos filhos a pensar e viver a diferença com seus amigos religiosos.

Pedagogia / Religião e Espiritualidade