Os livros didáticos de Língua Portuguesa disponíveis no mercado apresentam um desequilíbrio notável. Enquanto as seções dedicadas ao ensino de leitura e produção de textos e à oralidade se mostram bem sintonizadas com as propostas mais avançadas nessas áreas, o tratamento dos conhecimentos linguísticos – isto é, da língua como sistema gramatical – se revela muito apegado à tradição normativa, ao excesso de nomenclatura e a obsessão pela transmissão sem críticas dessa tradição e dessa nomenclatura. A abordagem da variação linguística também se faz de maneira insuficiente, superficial e confusa, deixando clara a ideologia essencialmente conservadora que impregna o material didático destinado ao ensino de língua. Feitas todas as contas, a maioria desses livros, em vez de se dedicar a verdadeira norma culta brasileira, tenta de fato inculcar uma “norma curta”, mais rígida e intolerante do que a prescrita por nossos melhores gramáticos e dicionaristas.
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