O Oriente evocado pelo título da coletânea de contos é um falso Oriente, como são todos aqueles sonhados pelo Ocidente. E nisto reside um de seus maiores méritos: é uma miragem este harém, que, à primeira vista, mais esconde do que revela o seu verdadeiro conteúdo, e onde vive toda uma pequena humanidade, criada por Eugenia Zerbini.
A sociedade quase sempre é a brasileira, vista (ou melhor, espreitada), em seus diversos estratos e por ângulos cuidadosamente escolhidos para revelar apenas o que a instância narrativa deseja. A impressão que por vezes assalta o leitor é a de ser um observador camuflado que vê o que as frestas escavadas pela narração permitem.
Grande arma dos bons contos, a surpresa espera em muitas dessas histórias onde o brilho e o fausto de alguns salões só é dimensionado quando se visitam suas instalações menos nobres.
Flertes ocasionais, com Machado de Assis, Guy de Maupassant e Lygia Fagundes Telles, são entrevistos pelos espelhos de alguns dos cenários, mas também pelo retrovisor do ônibus da linha que liga o centro da cidade a Parelheiros, sem baldeação, mas com oitenta paradas.
Sem mais, deixo-os na boa companhia deste magnífico Harém.
(Susana Ventura, doutora em Letras pela USP, professora e pesquisadora.)
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