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aguarde o peso da minha cabeça te afundar o peito
espere que eu sonhe não saia daqui por enquanto sem
sol
o inverno jeito bruto faz notar que a minha cara bicho
do mato vai envelhecer tanto quanto a sua, homem do
mar
pegue a sua bagagem finja fazer um chá planeje uma
saída sem hostilidade me consulte o melhor roteiro do
abandono
faça uma cartografia do desaparecimento
já tem tempo que ninguém nos anseia
nem monstro nem planeta nem canção
salve o meu corpo hipotérmico não esqueça
de resgatá-lo nos buracos existentes na palavra
embriaguez na palavra rejeição e na palavra brasil
talvez com z
essa é a nossa segunda cidade segundo país e você
mente diz que foi só agora que a vaidade se tornou
egoísmo (era antes o que?)
ainda fujo dessa vez sem óculos de sol duas meias no
pé casaco cachecol
tudo marcando a casca
lã ressentimento e saudade
(Poema "se venho do frio se posso dançar", páginas 85 do livro "haverá festa com o que restar", de Francisco Mallmann)
Poemas, poesias