O que a história tem a dizer sobre si mesma? Algumas respostas possíveis
para essa questão o leitor encontrará no dossiê que abre o número 12 da História
da Historiografia. E é por caminhos sinuosos, “cheios de curvas e atalhos”,
que os historiadores de diferentes épocas escreveram sobre a historiografia,
tecendo com muitos fios um rico painel, que não favorece consensos, mas abre
perspectivas, como argumentam os organizadores do dossiê, Pedro Caldas e
Felipe Charbel Teixeira. Convidados a refletir sobre o que significa historicizar
a própria história e dela extrair não apenas tradições – necessárias à formação
do historiador –, mas evidências acerca do que há de universal e de particular
nessa prática de escrever a história, os autores reunidos enfrentaram o desafio
de diferentes maneiras.
Nesse sentido, a revista aceitou o risco de propor uma reflexão sobre o
próprio objeto que lhe dá título, colocando em cheque sua própria especialidade
e a autonomia de um campo que, de modo específico, contribui para constituir.
Cabe ao leitor avaliar sua relevância – a da revista e a do dossiê – se não para a
afirmação de uma disciplina autônoma, ao menos como desafio ou provocação
aos historiadores interessados em saber o que fazem quando fazem história,
lembrando a conhecida questão de Michel de Certeau.
Na seção de artigos livres, o leitor encontrará uma reflexão sobre a
variação de escala de análise desenvolvida pelo historiador espanhol Anaclet
Pons. E ainda, exercícios de aproximação sobre as obras de dois historiadores:
o pouco conhecido Joseph Inikori, analisado por Gustavo Acioli Lopes; e Michel
de Certeau, muito conhecido e citado e, talvez, pouco compreendido, aqui
traduzido por João Rodolfo Munhoz Ohara. Por fim, o olhar da historiadora
Helena Mollo sobre a visão do pintor Araújo Porto-Alegre acerca da história
do Brasil. Entre variações de escala, aproximações e olhares atentos, a
historiografia delineia seus objetos e permite pensar a si mesma enquanto
produtora de métodos e sentidos.
Na seção de resenhas, além dos livros novos comentados por Danilo
Ferretti, Verena Alberti, Daiane Machado, Marcello Basile, Thiago Rodrigo Nappi
e Luzia Gabriele Maia Silva, destacamos uma importante reedição: a Historia
de AHILA, de Laura Giraudo, lançado em 2008, mas cuja relevância para a
comunidade internacional de historiadores justifica o exercício de César Augusto
Duque Sánchez. Encerrando o número, um documento histórico apresentado
por Pedro Telles da Silveira: o discurso de José da Cunha Brochado na Academia
Real de História Portuguesa, de 1730, que procura demonstrar a verdade da
ficção e a utilidade da história.
Os editores,
Arthur Alfaix Assis (UnB)
Julio Bentivoglio (UFES)
Rebeca Gontijo (UFRRJ)