história de um amor perfeito

Antecipando-se à primavera, Geraldo Magalhães, em boa hora, contou-nos a sua História de um amor perfeito. Texto de boa lavra, desenvolvido por quem sabe compor situações e dar vida a personagens que transitam em locais diversos de BH. Transitam, tropeçam, e, não raro, entre eles, o simples olhar passa a ser um ataque e o silêncio sua defesa.

Expressões e referências voltadas para uma repousante busca da paz interior – in illo tempore, dixit Jesus discipulis suis –, o autor, em sua narrativa, apresenta-nos um pequeno mundo em que dois seres partem em busca de si mesmos.

Ele, Pedro, viúvo e “intelectual a contragosto", propõe a Regina, em plena Serra da Piedade, um pacto de amor. Regina, jornalista de TV, atraente e sensual, abriga em seu olhar os convites da paixão e o pacto, pelo que contém esta vida de surpresas e armadilhas, acaba por moldá-los aos limites de cada um.

No decorrer da narrativa, situações capazes de reduzir a pó qualquer acordo, qualquer propósito, emergem de forma inusitada: uma ex-namorada de Pedro procura Regina para dele confessar-se grávida e, à queima-roupa, afirma não abrir mão do que é dela, e o filho é deles. Mais à frente, quem surge furioso é o ex-noivo de Regina que, enciumado, e após discutirem, fulmina Pedro com um soco no rosto.

Atento, no entanto, o autor vai amainando essas e outras situações, enquanto o pacto entre seus personagens, por força da espiritualidade que o sustenta, recupera-se, ganha corpo, segue em frente.

o amor, como uma torrente – desejo, paixão, nudez –, abrasa-se no ato alucinante que, não faz muito, em O amor natural, Carlos Drummond de Andrade bendisse em versos como estes:

O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois, são dois em um.