História do Pensamento Arqueológico

História do Pensamento Arqueológico Bruce G. Trigger


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História do Pensamento Arqueológico





Publicado em 1989 e várias vezes reimpresso, este livro de Bruce G. Trigger não é apenas uma recensão crítica da história da Arqueologia como uma disciplina. Mais do que isto, o autor oferece uma contribuição significativa sobre a natureza da Arqueologia, acrescentando sua própria opinião em relação a outros eminentes pensadores. No seu próprio dizer "este livro examina as relações entre a Arqueologia e seu meio social em uma perspectiva histórica" (p.17).



Esta tradução nos chega em boa hora: não são poucos aqueles leitores que se interessam pela Arqueologia, porém buscando mais os resultados obtidos por longa tradição de pesquisas de campo do que o entendimento profundo e acertado do "pensamento arqueológico", suas teorias e métodos, seu nível de reflexão, seu discurso próprio e diferenciador. Este livro de Trigger vem, pois, preencher uma lacuna em nosso meio, atendendo tanto a leigos estudiosos quanto a estudantes e pesquisadores dessa área. Trata-se, sem dúvida, de um filão promissor a ser seguido e explorado no mercado editorial brasileiro.



Bruce G. Trigger (1937-) é professor de Arqueologia na McGill University, Canadá. Notabilizou-se com inúmeros artigos publicados em diferentes países e sobretudo com os livros Time and Traditions: Essays in Archaeological Interpretation (Edinburgh, 1978) e Gordon Childe: Revolutions in Archaeology (London, 1980). A sua História do Pensamento Arqueológico é uma obra de plena maturidade e os dez capítulos de que se compõe apresentam-se cronologicamente enfocando as maiores correntes teóricas e seu meio social e ressaltando que as abordagens interpretativas nas quais está interessado tendem a se sobrepor e interagir umas com as outras no espaço e no tempo. Desde a relevância da história da Arqueologia (cap. 1) até as sínteses da história do pensamento arqueológico no século XX (caps. 2 a 5), Trigger revela a natureza dessa disciplina como um produto social.



Assim é que discorre sobre a Arqueologia Clássica e o Antiquarianismo desde suas origens na Antigüidade até o Romantismo do final do século XVIII (cap. 2); os começos da Arqueologia científica no século XIX (cap. 3) com a introdução da cronologia relativa e o estudo do desenvolvimento cultural a partir das perspectivas humanísticas (Escandinávia) e das ciências naturais (Inglaterra, França); sob o título "A síntese imperial" (cap. 4) discute a raiz de um pensamento racista imperial baseado numa abordagem unilinear evolutiva que colocou os brancos acima dos povos de cor, opiniões estas que acompanharam o expansionismo europeu por todo o século XIX; e, para completar esta série de capítulos históricos, examina no cap. 5 o desenvolvimento da Arqueologia histórico-cultural no início do século XX, surgindo de conceitos europeus de etnicidade e nacionalismo e a propagação antropológica do conceito de cultura.



Seguem-se quatro capítulos explorando as tendências do pensamento arqueológico no decorrer do séc. XX, como o relato sobre a Arqueologia na União Soviética e a força de sua teoria marxista, sendo os soviéticos os pioneiros nos anos de 1930 a desenvolver a arqueologia dos assentamentos e a explicação social de dados arqueológicos (cap. 6). Passando pelo "Funcionalismo na Arqueologia ocidental" (cap. 7) e seu grande impacto na área a partir da Segunda Guerra Mundial, e pelo "Neo-evolucionismo e Nova Arqueologia" com seu anti-historicismo (cap. 8), completa com "A explicação da diversidade" (cap. 9) caracterizada pela expansão de várias correntes de pensamento nos anos de 1970 e seguintes e a reabilitação da História nas tendências neo-historicistas.



Finalmente, é no capítulo conclusivo "A Arqueologia e seu contexto social" (cap. 10) que se revela mais profundamente o "pensamento arqueológico" de Trigger, acreditando como Childe (Archaeology and Anthropology, 1946; Archaeology as social science, 1967) que a Arqueologia pode contribuir para uma "ciência do progresso" mais objetiva (p. 379). Enquanto conclui que fatores subjetivos influenciam a interpretação arqueológica em todos os seus níveis, ele também assinala que o registro arqueológico constrange e limita o que é possível acreditar sobre o passado. "Os achados da Arqueologia", diz Trigger à página 419, "ainda que subjetivamente interpretados, modificaram a percepção que a humanidade tem de sua história, de sua relação com a natureza, e de sua própria natureza, e o fizeram de maneira irreversível - a menos que se abandone de todo o método científico". E completa seu pensamento, ainda à página 419: "O fato de que a Arqueologia pode gerar um número cada vez maior de idéias sobre o que aconteceu no passado sugere que ela pode construir uma base cada vez mais eficaz para a compreensão da mudança social".



Um livro tão denso, tão profundamente fundamentado em vasta erudição, só poderia ser obra de Bruce G. Trigger, cujo perfil científico como grande conhecedor da história da Arqueologia se revela não só nos vários capítulos do livro como também no "Ensaio bibliográfico" e nas "Referências bibliográficas" que encerram o volume.



HAIGANUCH SARIAN

Museu de Arqueologia e Etnologia

Universidade de São Paulo

História

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