O presente volume tem a pretensão de servir a três públicos diferentes. Em primeiro lugar, oferecemos o texto grego para leitores acadêmicos e estudiosos da língua de Sófocles: eis o porquê das emendas de respeitados filólogos, dentre as quais selecionamos as que nos pareciam mais razoáveis na composição de uma história coerente. Nessa empreitada, para um discreto resgate de seu aspecto material, inicialmente apresentamos o texto tal como nos chegou, visualmente fragmentado, a partir da edição de Lloyd-Jones. Nossa intenção é evidenciar o desfalque sofrido por este objeto viageiro no tempo e espaço.
Vemo-lo limitado, danificado, lacunar, mas ao mesmo tempo instigante, cheio de vida, graça e estilo. Acreditamos que ontemplá-lo assim é a maneira mais imediata para exibir ao leitor a problemática desta área sofisticada e rica dos estudos do mundo antigo.
A angústia da perda, no entanto, é atenuada pelo prazer do deciframento em duas vias: o da lida com o texto grego lacunar que gera descobertas e o do contato com um gênero bastante desconhecido no Brasil, o drama satírico. Dessa forma teatral, para a única peça que nos chegou completa, o Ciclope, há apenas uma tradução brasileira; infelizmente, da maioria dos demais fragmentos – que são muitos, se tomamos por base o artigo “Handlist of Satyr Plays” de Sutton –, no círculo acadêmico, sequer se tem notícia.
Literatura Estrangeira