Indícios Terrestres

Quando deixou Moscou, em 1922, a fim de juntar-se ao marido em Praga, Tsvetáieva levou consigo sua extensa produção em versos e uma série de diários e cadernos de estudo poético. Assim que se estabeleceu na capital da antiga Tchecoslováquia, a poeta começou a trabalhar nas anotações que compreendem os anos de 1917 a 1920. Como deixa claro em suas cartas, Tsvetáieva acreditava que seus relatos sobre a Revolução de Outubro e a Guerra Civil seriam de grande interesse para o público leitor. Além disso, fixar em palavras esse grande momento histórico que vivenciou e registrou de modo tão pungente – sem traço de autopiedade, todavia, e repleto de momentos de (auto)ironia e humor – é parte de seu projeto poético global e passa pela sua crença a respeito do papel do poeta na sociedade e no mundo.

A obra Indícios terrestres (em russo: Земные приметы) encontra-se profundamente enraizada em um tempo e um espaço específicos: os eventos em torno da Revolução Russa e da Guerra Civil, que não são apenas um pano de fundo histórico, mas o próprio objeto da representação. Pode-se dizer que as vicissitudes dos períodos revolucionário e pós-revolucionário, bem como os representantes daqueles que disputavam o poder, sejam os Brancos ou os Vermelhos, encontram-se retratados nas linhas da obra com todas as suas idiossincrasias e contradições. Mas há também uma camada subjacente que ultrapassa os limites do momento vivido. Esta camada um tanto mais profunda revela uma tendência compositiva de Marina Tsvetáieva: dar uma dimensão de totalidade tal à sua obra que esta extrapola os limites das páginas e vai ter com a vida, como se uma e outra não apenas não pudessem existir de modo independente, mas, sobretudo, sem qualquer traço que as separe, que as defina como sendo duas partes distintas da existência.

A publicação dos Indícios não se deu de uma tacada só nem tampouco como foi concebida por Tsvetáieva, mas em partes: em ensaios íntimos que saíram sob distintos títulos ao longo do período que abrange os anos de 1924 a 1927. A reunião obedece uma ordem temática e, no interior de cada tema, os trechos são arranjados cronologicamente de acordo com a data em que foram produzidos, uma vez que a impressão não seguiu o critério predeterminado pela autora, mas deu-se em virtude das circunstâncias que envolveram as negociações de edição de cada obra separadamente.

Assim, temos:

“Outubro num trem” (“Октябр в вагоне”), escrito entre outubro e novembro de 1917, foi publicado pela primeira vez em Praga, 10 anos depois, nos números 11 e 12 da revista russa editada em Praga Vólia Rossíi. A tradução, já concluída, pode ler lida a partir do post Prefácio a “Outubro num trem”.
“Passe livre” (“Вольный проезд”), de setembro de 1918, e “Meus empregos” (“Мой службы”, 1918-1919) foram publicados na revista Sovremiénie Zapíski, nos números 21, em 1924, e 26, em 1925, respectivamente; A tradução de “Passe livre”, em andamento, pode ser lida a partir do post Prefácio a “Passe livre”.
“O amor” (“О любви”, 1917-1919), no jornal russo-berlinense Dni, na edição de 25 de dezembro de 1925;
“Dos diários e cadernos” (“Из записных книжек и тетрадей”), de 1919, e “A morte de Stakhóvitch” (“Смерт Стаховича”), de 27 de fevereiro de 1919, no jornal Posliédnie Nóvosti, de 21 de janeiro de 1926;
“A gratidão” (“О благодарности”, 1919), no primeiro número da revista russa de Bruxelas Blogonomiérienye, em 1926; “Excertos do livro Indícios terrestres” (“Открывки из книги Земные приметы”, 1917-1920) saiu na Vólia Rossíi, em 1924;
“A Alemanha” (“О Германии”, 1919) e “O sótão” (“Чердачное”, inverno de 1919-1920), no Dni, em 13 e 25 de dezembro de 1924, nessa ordem.
Nesta obra, além de cronista do momento histórico, Tsvetáieva coloca-se também como cronista de sua própria vida.
https://mtsvetaieva.wordpress.com/indicios-terrestres/


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