Joaquim Nabuco: revolucionário conservador

Joaquim Nabuco: revolucionário conservador Vamireh Chacon


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Joaquim Nabuco: revolucionário conservador (Coleção Biblioteca Básica Brasileira)


(sua filosofia política)




Liberdade e igualdade são dimensões de difícil convivência, mesmo se cruzando e coexistindo. A História da Humanidade é, em grande parte, a História dos seus conflitos e das tentativas de sua solução. Libertários e igualitários entendem-se e
desentendem-se, divergem e convergem nas fases tanto pacíficas de reformas, quanto de revoluções. Nas fases de equilíbrio, os
extremos convergem para o centro; nas de desequilíbrio, o centro diverge em extremos.
No Ocidente moderno os libertários e os igualitários chocam-se doutrinariamente, e não só com a força das armas, na Revolução Inglesa terminada pela conciliação de 1688, por isso chamada de Revolução Gloriosa. A luta daí em diante ali será
desarmada, canalizada e institucionalizada pela democracia representativa no quadro da monarquia constitucional parlamentarista. O quadro da oposição entre adeptos da Coroa e adeptos do Parlamento: alguns destes chegando aos extremos dos levellers, os “niveladores”, já naquele tempo igualitários radicais, liberais whigs e conservadores tories. Libertários (Washington, Jefferson, Madison) e igualitários do gênero de Thomas Paine repetiram a dualidade na Revolução Americana de 1776, também conciliada institucionalmente, neste caso pela república presidencialista. Básica dialética insistida por girondinos e jacobinos na Revolução Francesa de 1789, cujos extremos não conseguirão todavia convergir tão bem para o centro, como se verá na linha contestária vindo da Conjuração dos Iguais de Babeuf às Insurreições já propriamente socialistas de 1848 e 1871. Guerras civis na França, Guerra Civil entre Sul e Norte dos Estados Unidos, desta as reivindicações institucionalizadas nas lutas democratizadoras
dos negros e outras minorias em defesa dos seus direitos. Joaquim Nabuco viveu intensamente os dilemas, inicialmente pela leitura dos grandes historiadores da Revolução Francesa, ele refere Thiers, Lamartine, Mignet, Quinet; quanto à Revolução Americana, Nabuco filho aprendeu Tocqueville com seu pai, o Conselheiro José Tomás, como Joaquim Nabuco revela ao incluí-lo entre as leituras de Um Estadista do Império. Na França Nabuco viu os conflitos, nos Estados Unidos soluções polêmicas, na Inglaterra os conflitos mais amenizados e as soluções mais aceitas pelas grandes maiorias. Daí a opção nabuqueana pelo liberalismo whig parlamentarista e monárquico, confirmando e ampliando sua confiança democrática na capacidade da monarquia brasileira renovar se, resultado do testemunho de perto da ação reformista da geração do seu pai. Liberalismo, já social whig em Gladstone, levado a socialista agrário de Henry George pela experiência pessoal de Nabuco nas campanhas abolicionistas, quando concluiu pela necessidade de reforma agrária, com terras para os libertos (discurso de 14 de setembro de 1885) e escolas como também propõe em Minha Formação. Joaquim Nabuco: revolucionário conservador. Estes foram os caminhos de Joaquim Nabuco tentando superar seus condicionamentos de aristocrata de berço, liberal de idéias e igualitário de coração, na paradoxal síntese de “revolucionário conservador” assim definido por Gilberto Freyre em discurso no centenário do seu nascimento, 18 de agosto de 1949, na Câmara dos Deputados, onde Nabuco fizera aquele e outros memoráveis, precursores, pronunciamentos. O fundamental na Revolução Conservadora são novas conquistas sem prejuízo das anteriores: dificuldades de elaboração de modelos e instituições democráticos novos e próprios. Toda época tem contradições, Nabuco viveu as suas, mas previu o futuro da República, desvirtuada dos seus iniciais princípios de 1817 e 1824, como se vê em algumas das cartas dele a José Mariano, Visconde de Taunay e Barão do Rio Branco nos Anexos do presente livro. A primeira edição deste livro aparece no 90o aniversário de falecimento de Joaquim Nabuco, ano seguinte ao sesquicentenário do seu nascimento. O recurso aos textos de Nabuco, à sua correspondência e à
biografia dele pela própria filha, significa aqui uma viagem por dentro das suas fontes mais profundas. As fontes primárias, correspondência de Nabuco, aqui utilizadas pela primeira vez, foram consultadas no arquivo da Fundação Joaquim Nabuco no Recife.
Brasília, 1o de março de 2000

Filosofia / História / História do Brasil / Política

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