Lina Bo Bardi

Lina Bo Bardi Olivia de Oliveira.


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Lina Bo Bardi


Sutis substâncias da arquitetura




Lina Bo Bardi utilizou o termo substâncias, em vez de materiais, para explicar de que estaria feita sua arquitetura; composta pelo essencial, por aquilo que alimenta, dá fundamento e resistência à vida. Compreende-se assim a importância de determinados elementos vegetais, minerais, aéreos ou aquosos em seus edifícios e das expressões utilizadas por ela para nomear alguns deles: rio São Francisco, cachoeira da Mata Grande onde mora o Pai-Xangó, cidadela, terreiro, jardim de ervas aromáticas e cheirosas, termos simbólicos referidos a lugares existentes e às tradições populares. Suas arquiteturas vêm tratadas como lugares ?sagrados?, enquanto curativos mágicos e, sobretudo, enquanto lugares lúdicos e coletivos onde a noção de tempo linear deixa de existir, onde o prazer e o desejo afloram livremente. Por elas multiplicam uma combinação infinita de peças: rios, gárgulas, cachoeiras, árvores, carrosséis, escadas? Tal repetição de um mesmo elemento em obras, épocas e lugares distintos faz com que toda noção cronológica de tempo seja apartada de sua obra, tornando-se essa um crisol, onde as coisas se misturam e se superpõem. É a busca do contato com as coisas rotineiras e banais ? práticas e expressões populares, que vão da culinária ao artesanato, da música às artes plásticas, do futebol à dança, curas, cantos e contos populares ?, expressões essenciais de uma espontaneidade perdida, sem medo ao efêmero e ao casual. Lina pertence a uma geração que sobreviveu à 2ª Guerra para a qual importava liberar a imaginação e trabalhar com o que se tinha nas mãos. Sua obra regenera o ?lixo?, aquilo que foi dado por impuro, inútil ou perdido, fragmentos de vida dos quais surge uma potente e atualíssima crítica a uma sociedade deteriorada pelo frenesi do consumo. Ela é uma confrontação crítica e real a um estado de coisas, apontando contra todo tipo de pensamento bipolarizado que contrapõe o bem e o mal, entre natureza e artifício, ordem e caos, moderno e vernacular, passado e presente, lúdico e religioso, sonho e razão? Estas arquiteturas aguçam os sentidos, assinalando-nos estratégias de sobrevivência. Este trabalho aproxima-se à obra de Lina Bo Bardi do mesmo modo somático com que ela abordou o mundo, desde seus aspectos marginais, escondidos, esquecidos, frágeis e efêmeros, que são os verdadeiros materiais ou substâncias de sua arquitetura, aquilo que a distingue e a torna extra-ordinária.


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Ana Rocha
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29/03/2009 21:49:12

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