Desaboios

Desaboios Pedro Américo de Farias


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Um desaboio deve ser arte de um vaqueiro do ar, alguém além e à margem do fazendeiro drummondiano. Um desaboio não tange rebanhos, é um risco no disco feito por uma agulha de mandacaru que toca o mundo em alteradas rotações e translações. Matuto e desmatuto aqui sobre as cordelanças cosmopolitas de Pedro Américo – de Ouricuri para todas as galáxias de Gutenberg. Xote de breque. A musa é o mote nas formas fixas das vastidões populares. Desaboio é um nó na cabeça do boitempo perdido na capoeira. Tento decifrar o enigma e caio de novo na arapuca do linguaraz. Vida toda vertigem. Desaboiar é apagar os rastros na vereda. Arrisco vinténs na peleja do homo ludens. Passa boi, passa boiada – vade retro – e o vírus do Capetão folga na arruaça. Agora o desaboio de Pedro Américo é o coro dos descontentes, uma cantiga d´escárnio e maldizer. Xô, alma sebosa dos seiscentos. Só Eros, esse fuleiro, salva! Donde balança na praça, a putaria em folheto. A cordelança fescenina ou lincenciosa não pede passagem, os versos mordem os calcanhares dos fascistas e guardiões dos tais bons costumes. Evoé Bocage, arriba Gregório de Matos! Pedro Américo come pelas beiradas da linguagem e nos faz esse agrado, em plena agonia pandêmica, com um livro que é um alento, uma feira livre da forma fixa, um pirão capaz de levantar o mais esmorecido dos viventes. Sim, nas suas mil e umas inutilidades, a poesia é espora e delicadeza, fastio e sustança. “Desaboios” é um sortimento de coisas. E quem quiser que decifre agora .[XICO SÁ, SP, outubro de 2020]

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