O bicho que me falta é um livro de conflitos. Há uma ruralidade difusa frente a uma urbanidade de concreto; há o amor — e ele é sempre conflitivo neste livro; há o poema que começa o livro falando de vazios contra um final que promete o recomeço. Há desordem, desabafo e despertar nestas páginas. Essa rede de conflitos cria um relato humano. Este é um dos livros mais sinceros sobre acertos e erros, da obra e da vida do autor, que li nos últimos anos. Jander Gomez diz que sua área é o romance. Talvez seja na vida, é um homem que ama, porém, na literatura ele é mais que a narrativa. Nestes versos, ele prova que a poesia é seu lugar também. As frases curtas, as pedradas de palavra que ele atira, são certeiras. Estes versos são jogados por um bodoque de emoções, como o caçador que ganha a vida pelo morrer. Há um Pantanal fantasmagórico feito dos bichos mortos do interior de cada um destes poemas — ou um só gigante poema, o mesmo espírito fragmentado neste centenar de páginas que se comunicam.
O Pantanal é um pântano, é perigoso e monstruoso, como todo reino semi-submerso, mas é também uma fonte de vida. Jander caiu na lama, se afundou num lugar tóxico, queimado, mas como as árvores que renascem depois dos incêndios, ele retorna fênix em poesia. O primeiro livro que dele se chamava RE+Começar. Este deveria chamar-se assim também. Ele dá ré, mas é só para
avançar por nossos corações. [Orelha de BRUNO BUCIS, escritor, crítico literário e criador do podcast especializado em livros latinos “livrAL”]
Poemas, poesias