Se o tempo não fechar nós iremos ao cinema

"Se o tempo não fechar nós iremos ao cinema" é um impressionante romance de estreia e um brilho no romance brasileiro. Mas não surpreende a quem já conhece seu autor, Jansen Hinkel, poeta, cineasta de formação, acadêmico de audiovisual e um de meus melhores amigos. Hinkel não esconde suas marcas autorais: estão aqui as figuras femininas – as quais psicanalistas atribuiriam a sua origem familiar, essencialmente matriarcal, que permeiam seu imaginário; sua obsessão pelo limiar entre a noite e o dia, pelo relógio que não cessa, pela ação do tempo, que castiga ou premia cada um de nós de maneira aleatória. Seu gosto pelo bem-acabado, sem que isso o torne um formalista. Seu experimentalismo rigoroso, nada carnavalesco, faz lembrar algo de fábula que se mistura a fluxos de consciência, investigação criminal, crítica histórica e filosofia. Tive, durante a leitura, a sensação de ouvir sua voz entoando os parágrafos cuidadosamente redigidos, as palavras escrupulosamente selecionadas – tal qual em sua obra poética – como se o texto não pudesse ter-se escrito por ninguém mais: é um puro Hinkel, com todas as suas idiossincrasias, seu bom mau humor e seu sério deboche. Dito isso, não é preciso conhecê-lo para aproveitar "Se o tempo não fechar nós iremos ao cinema". Localizado em algum lugar onde a literatura é também música, pintura e cinema, o caminho da leitura é prazeroso, surpreendente e recompensador, como todo bom romance deve ser. [Ivan Vinagre]

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