Contas do rosário

É com muita honra que teço minhas impressões sobre a mais nova obra de Cecília Rogers, "Contas do Rosário". Me chamou a atenção de imediato a sua transfiguradora sensibilidade e a delicadeza no trato com a palavra. Como o próprio título sugere, há a essência da religiosidade como fio condutor que atravessa a obra, trazendo como forte carga simbólica o desfiar das contas de um rosário. Notamos isso a começar pelas seções que abrem o livro: os Mistérios Luminosos, Gozosos, Dolorosos e Gloriosos. Conquanto, como disse Roland Barthes, o texto poético é "passagem e travessia", e Cecília consegue revelar a materialidade da existência num elo entre os dois mundos, o transcendente e o imanente, o terrestre e o celeste: “No oratório, os santos todos olhavam para o vazio do tempo, ela pegou o terço da mãe e deslizando as contas entre os dedos começou a sua reza-poesia”. Já sabemos que há uma mãe e uma filha materializadas neste chão imanente e transcendente, de tempo, chão, memória e natureza. Encantada com este poemário e com suas heterotopias do maravilhoso, que nos convida a uma viagem divina pelo chão da memória, trazendo em sua bagagem metafórica os sopros do “Tempus fugit” e do “ubi sunt”. Finalizo com Adélia Prado que diz: “A poesia aponta para o mesmo lugar para onde a fé nos leva”. Ave, Cecília Rogers! [Luiza Cantanhêde]

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