Fotografias para perfis fake

Em algum momento, ainda não se sabe qual (e talvez nunca se saberá), teremos alguma (des)medida dos flashes que atingem nossas retículas e mentes. A velocidade, aí, tenta fixar os esquecimentos que se querem a única verdade. Mas os negativos de "Fotografias para perfis fakes" de Samuel Marinho revelam a permanência no precário. A memória que inventa é uma amiga a resistir ao falso que se quer pleno. Isto é poesia neste livro. Ao enfrentar o paradoxo do fugaz retido nos dedos que cegam nos écrans, o conjunto de poemas aqui reunidos convida-nos a encarar a Mnemosine de hoje como a um compromisso estético em que poesia e técnica se misturam em prol das verdadeiras que já não podem deixar de verouvirfalar: as infinitas vozes que passam e atravessam telas suportes selfies, dizendo o que fica é o diálogo da escutapalavra com imagens para o reencantamento do mundo. Como nos seus livros anteriores, o autor mais uma vez traz a linguagem informacional para o jogo da construção poética. Agora com a lembrança ao lado, sua poesia afasta de quaisquer maneirismos o uso de tal linguagem. Dá a esta, um surpreendente lugar no panteão das formas criativas que, entre a desconfiança e a persistência, faz o verdadeiro inevitável surgir ao olho e ao pensamento: a poesia em estágio de nova clarividência que se abre neste século. [Guilhermina Rosa]

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