Um quarto de silêncio nos súbitos rumores do mar

É no espaço entre as palavras, nos curtos silêncios, que a poesia de Line de Lima se manifesta. E quando o silêncio se ajeita entre as mobílias, completamente à vontade no cotidiano, os versos escorregam e se esgueiram pelos espaços não preenchidos, transformando, ocupando, fazendo sentir que nada houve ali além de poesia, silêncio e caos. Clarice Lispector, uma das autoras de que gosta Line, sobre o silêncio em "Onde estivestes de noite" escreveu: “Como estar ao alcance dessa profunda meditação do silêncio. Desse silêncio sem lembrança de palavras. [...] Há uma continuidade que é a vida. Mas este silêncio não deixa provas. Não se pode falar do silêncio como se fala da neve. Não se pode dizer a ninguém como se diria da neve: sentiu o silêncio desta noite? Quem ouviu não diz.”. Esse silêncio de que fala Clarice e de que se alimenta a literatura de Line de Lima é o que possibilita o encontro de verdade com a escrita, em especial com a poesia, e para o entendimento dos mares de dentro. E que lindo encontro é a poesia de Line de Lima com seus mergulhos para o dentro! A poética do “eu” intrínseca aos versos de Um quarto de silêncio nos súbitos rumores do mar puxa o leitor para dentro de si mesmo com sua engendrada poesia de ressaca, arrastando, ensinando, resistindo, silenciando em um mundo de instantes. Acredite, ¼ é exatamente o suficiente de silêncio para a revolução que a autopoesia pode fazer no mundo, no “eu” e no “nós”. [M. GALHARDO]

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