Manhãs de sábado

Neste livro de estreia, Fernando constrói uma poética da vida através de uma linguagem simples e objetiva, mas repleta de lirismo. Seus versos carregam urgência, mas nunca pressa, e revelam um olhar sutil e delicado que organiza no mesmo espaço aflições e desejos aparentemente conflitantes. É categórico ao afirmar: “Amigos, convenhamos: a vida é triste. Claro, ela é bela também.”. Acredito que seja essa a força poética de Manhãs de Sábado. Fernando dá linguagem a aspectos da existência que todos sentimos, mas nem sempre sabemos elaborar; essas aparentes contradições que nos assombram, entre beleza e horror, euforia e tédio, paz e letargia, amor e solidão, não aparecem aqui como opostos que se impossibilitam mutuamente, mas como uma rede de sentidos que constroem a vida justamente nesses espaços em que os extremos se revelam inevitáveis a qualquer forma possível de existência. A melancolia existencial é salpicada pela preciosidade dos pequenos momentos – a luz dispersa de um pôr do sol na praia, uma canção antiga, uma cerveja gelada num domingo com pessoas queridas – sem nunca se anularem, sugerindo uma forma de viver que não se propõe a buscar ou eliminar nada, mas apenas continuar o caminhar. Os versos que abrem o livro “Esta é apenas uma parada/ Para descansar os ombros” são um convite a adentrar um espaço de suspensão, um estado quase meditativo, como são as manhãs de sábado, esses momentos de “recomeço sem ruptura”, pois é justamente aí onde mora a poesia. Estes poemas se interpõem ao leitor como um espelho quebrado, que permite enxergar seu próprio reflexo através das frestas que revelam o olhar de um outro por trás do espelho. [Gabriela Mantovani]

Poemas, poesias