Corolário do caos

A VOZ, AQUI, NÃO SOMENTE empregada como uma metáfora para o tom que dá aos seus escritos, mas “voz” mesmo, este funeral da fala que ele invade e hereticamente corrompe, com sua prosa que se puxa à poesia e salta da página, voando fora da asa. Porque, contrariando os mandamentos de seus diáconos, Sturba se deixa enforcar com suas cordas vocais e, nos patíbulos dos seus contos, contemplamos o espetáculo de narrativas concebidas por ele como breves esquetes para serem, mais que lidas: declamadas, performatizadas na rua. Por isso o livro está disponível, além da tradicional versão impressa, em versão audiobook com narração do próprio autor e alguns convidados. Impossível, recorrendo novamente aos tais mandamentos, não invejar a pura loucura destas histórias, e torcer por que, se “quando surge um incompreendido mais decidido logo aglomeram-se vários”, essas performances invadam novamente as calçadas das nossas farmácias, erguidas sobre os vultos de tantos poetas derrubados, provando em definitivo que o único remédio para a doença de uma João Peçonha de doidos são outros muitos doidos no seu rastro. E quem sou eu para, mal conhecendo o cara direito, já vir colocando facas em suas palavras neste prefácio... Que se ponha a mesa e se ergam os garfos. O banquete já está servido!
TIAGO GERMANO

Ficção