Saber-se negro é viver a experiência de ter sido violentado de forma constante, contínua e cruel, pela dupla junção de encarnar o corpo e os ideais do Ego do sujeito branco e de recusar, negar e anular a presença do seu corpo negro. Ante a desvalorização sistemática dos atributos físicos do sujeito negro, seu corpo se opõe a identidade branca, que ele é coagido a desejar. Diante da "ferida" que é a representação da sua imagem corporal, o negro oprimido pela violência racista procura cicatrizar o que sangra. No desejo de embranquecer, deseja a sua própria extinção, e sucumbe ao combate contra a realidade do seu corpo, com tentativas de "correção" física e submissão ao código do comportamento tido como branco.
Este livro procura romper a precariedade de estudos sobre a vida emocional dos negros. Diante da flácida omissão com que a teoria psicanalítica tem tratado desse assunto, a autora apresenta reflexões profundas e inquietantes sobre o custo emocional da sujeição, da negação da própria cultura e do própria corpo. O negro que se empenha na conquista da ascensão social paga o preço do massacre de sua identidade. Toma o branco como modelo de identificação, como única possibilidade de "tornar-se gente".
Psicologia / Sociologia / Não-ficção