Como ocorre a produção de fatos científicos? No mundo todo a antropologia já estudou tribos, costumes exóticos, representações simbólicas, tradições populares e os cultos mais complexos. Mas a indústria, a técnica, a ciência e a administração pouquíssimas vezes foram estudados.
Ninguém imagina como é o dia-a-dia de um laboratório - técnicos que entram e saem, pesquisadores debruçados em suas bancadas e pilhas de papel, instrumentos, materiais, substâncias químicas e animais que chegam a todo momento, milhares de dólares gastos a cada dia e, talvez, algum mistério decifrado. "Um quebra-cabeça quase terminado guiado por um campo invisível", define o etnólogo francês Bruno Latour.
Ele chegou no Laboratório de Neuroendocrinologia do Instituto Salk, na Califórnia, disposto a "presenciar descobertas científicas e estudar os pesquisadores como se fossem uma tribo exótica". No início, não sabia se estava em uma reunião do Estado-Maior, em algum dispositivo policial ou até mesmo entre conspiradores. Pareciam todos jovens executivos dinâmicos que discutiam estratégias, investimentos, guerrilhas e viradas radicais.
Passado o choque inicial e após dois anos mergulhado na "desordem heterogênea e confusa de um laboratório", Latour se uniu ao sociológo inglês Steve Woolgar para analisar a produção social do objeto científico. Assim nasceu este estudo inédito sobre a vida de laboratório e a produção dos fatos científicos.