Há uma tensão não declarada nos quadrinhos de Marcelo D´Salete. Seu segundo álbum, Encruzilhada, lançado pela LeYa/Barba Negra, reúne cinco histórias que se passam entre becos, vielas e condomínios de periferia da grande metrópole brasileira, e que são protagonizadas por trabalhadores e desocupados em suas atribulações ordinárias e banais pela sobrevivência. A tensão se sobressai justamente da aparente normalidade que perpassam histórias como a da moça observada pelo seu vizinho do prédio à frente, da pequena vendedora de DVDs piratas, da jovem que consegue comprar seu telefone celular. "Quando lia quadrinhos, tempos atrás, percebi que haviam facetas urbanas pouco discutidas ali. Algo que notava em filmes, graffitis, no rap e nos livros. Esse universo era pequeno nos quadrinhos. E eu podia contar essas histórias sem achar estranho ao meu contexto", diz d´Salete. Seu traço e estilo passam longe daquele trabalho bem acabado e bem definido, limpinho e certinho. Esta "imperfeição", moldada através de linhas e manchas, tem influência declarada do graffiti e dessa atual topografia urbana sobrecarregada de uma cidade como São Paulo, onde vive o quadrinista.