Marco do romance moderno brasileiro, "Angústia" é a expressão máxima do embate entre a subjetividade do escritor e a realidade objetiva. Esta, sempre opressora, se revela na figura de um pequeno funcionário e sua consciência de condenado à mediocridade.
A obra foi originalmente publicada no início de agosto de 1936, em circunstâncias muitíssimo incomuns na história da literatura brasileira. Graciliano Ramos, trazido de Maceió no porão de um navio, achava-se preso no Rio de Janeiro, sem culpa formada e sem ser ouvido uma única vez para se defender da acusação pelo qual estava atrás das grades: a sus¬peita de ser um militante comunista.
"Angústia" não se distingue somente por nos evidenciar, a cada parágrafo, a capacidade de observação do autor, o romance também nos chama a atenção pelas qualidades literárias que fizeram dele uma obra única no momento de sua publicação.
De origem rural, como quase todo o elenco de personagens do romance, Luís da Silva --protagonista do romance-- integra-se com dificuldade à vida urbana. Resiste às suas exigências, mas de vez em quando descobre o quanto há de armadilhas no novo modo de vida. A pobreza o obriga a morar em uma pensão de terceira categoria, e como o salário de ajudante administrativo em uma repartição pública não basta para cobrir as despesas, obriga-se a vender seu pouco talento literário sob a forma de artigos destinados a um jornal, cujo programa é o elogio cotidiano dos políticos da situação.
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