"Lautréamont, depois de morrer desconhecido aos 24 anos, em 1870, e de sua obra esperar dezessete anos para ter os primeiros leitores, tornou-se um mito, pela extraordinária ousadia e criatividade de seu texto, um exercício radical de liberdade de criação. Hoje multiplicam-se as edições 'Os Cantos de Maldoror' e da obra completa de Isidore Ducasse, celebrizado sob o pseudômino de Conde de Lautréamont. Sua bibliografia é gigantesca, situando-se entre os escritores mais estudados e discutidos da atualidade. Ignorou a modernidade e apontou caminhos pra o surrealismo e as vanguardas do século XX. Provocou fascinação e espanto em autores tão diversos como Breton, Malraux, Gide, Neruda e Ungaretti. É reconhecido como poderoso inventor, expoente dos inovadores, transgressores e poetas malditos, assim como o foram William Blake, Baudelaire, Rimbaud e Jarry.
O poeta Cláudio Willer, que já havia publicado sua tradução de 'Os Cantos de Maldoror', preparou esta edição completa de Lautréamont. Inclui comentários, notas e um substancioso prefácio, onde enfrenta obscuridades, vencendo o desafio da interpretação do texto e os mistérios decorrentes da ausência de biografia. Mostra como 'Cantos' e 'Poesias' são uma escrita do avesso, abissal e perversa, regida pela lógica da metamorfose, pois nela cada termo contém seu oposto e cada coisa implica seu contrário, aquilo que não é. Repleta de paradoxos, representa a consagração do pensamento analógico, oposto a razão dualista. Satírica e paródica, pelo modo como se apropria de outros autores, aduterando-os e innvertendo-lhes o sentido, seu caráter monumental deve-se à coerência, aliada à imaginação desenfreada e transbordante. Da concepção geral, passando pelos relatos e reflexões, até o estranho vocabulário e as figuras exageradas de retórica, tudo, em seus detalhes, obedece à lógica do delírio e da negação. Por isso, não é apenas reflexão crítica sobre a literatura, mas rebelião extrema contra a sociedade e o mundo."
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