Se a loucura é o oposto do que nos faz humanos, o espelho onde repousa nosso reflexo distorcido, a memória é o que nos alinha com a razão. Talvez por isso, os dois temas estejam entre os preferidos dos romancistas. Mas poucas vezes seu uso, ou o do alinhavo entre os dois, resulta num livro tão singular. A originalidade nessa seara é artigo raro de encontrar. Mas não impossível, como mostra o incensado romance de estréia de S. J. Watson.
Antes de dormir pegou a crítica especializada — e o público — de surpresa. E resultou numa onda de elogios entusiasmados de nomes como Lionel Shriver e Dennis Lehane. E na compra dos direitos para o cinema por Riddley Scot, que já garantiu Nicole Kidman no elenco. Pensado por um audiologista do Hospital St. Thomas de Londres entre turnos e aulas sobre como escrever um romance, este é um thriller extremamente literário que aposta no trivial, no mundano.
Tudo pode acontecer. Tudo acontece. Antes de dormir violenta toda e qualquer fabulação. É quase impossível não criar conjecturas que caem a cada página, para serem substituídas por outras teorias igualmente equivocadas. No centro deste romance surpreendente sobre memória, identidade e loucura, está uma pergunta aterrorizante. Como alguém pode viver se não consegue acreditar em si mesmo? Mais: como é possível se construir em menos de 24h?
Christine acorda numa cama estranha, ao lado de um homem com uma grossa aliança no dedo. Sua primeira reação é imaginar que na balada tenha se envolvido com um homem casado. Enquanto tenta se lembrar com esforço da noite anterior, entre pudores de ser descoberta pela esposa traída, ela finalmente se olha no espelho. E não reconhece o reflexo. Pelo menos vinte anos mais velho do que esperava encontrar.
É então que o homem lhe revela algo perturbador: todos os dias, suas memórias desaparecem todas as vezes que ela dorme. O estranho, seu marido Ben, é obrigado a recontar a vida deles todas as manhãs. Encorajada por seu médico, ela começa um diário para ajudá-la a recompor as memórias dia após dia. Certa manhã, ela o abre e se depara com quatro assustadoras palavras: “Não confie em Ben”. E ela passa a se perguntar... Que acidente a fez ficar assim? Em quem ela pode confiar?
Ficção / Literatura Estrangeira / Romance / Suspense e Mistério