O que cabe em 14 linhas? O que pode ser contido numa estrutura de quatro estrofes? Que ideias podem ser traduzidas por versos que rimam, liricamente conduzindo o leitor pela sua narrativa? No caso dos sonetos de Glauco Mattoso, tudo, de memórias de sabores, odores, cores e alimentos ingeridos da infância à maturidade, sempre associados a dores e prazeres da vida a podolatria, sadomasoquismo e amor. Numa miscelânea de temas tão variados, nada mais justo que o livro ser nomeado Saccola de Feira (assim, com a grafia antiga de ?saccola?, um dos traços do autor), onde tudo pode ser colocado sem distinção. Cego aos 40 anos devido ao glaucoma (que deu a Glauco seu irônico pseudônimo), o poeta é o narrador que conduz a viagem lírica pelos campos da cegueira, podolatria, memória, infância, sexo, violência, poética, política e corpo, sempre demonstrando uma percepção ímpar para todas as nuances que ele consegue retirar de sua saccola lírica.
A obra "Saccola de Feira" é dividida em quatro partes. Na primeira, culinária vegetariana, os sonetos resgatam memórias de sabores, odores, cores e alimentos ingeridos da infância à maturidade, sempre associados a dores e prazeres da vida. Na segunda parte, glosas venenosas, o tema central é quase sempre a cegueira e outras questões como podolatria, sadomasoquismo e amor. Em glosando as trovas, os poemas são experimentados em sons, metros, ritmos de forma imprevisíveis. A quarta e última parte do livro é fábulas, nas quais o autor Glauco Mattoso, de forma curta, estrutura diálogos sempre entre dois personagens na cadeia alimentar.
Poemas, poesias