O movimento Steampunk nasceu entre as décadas de 1980 e 1990, nos EUA. A proposta é ambientar os grandes avanços tecnológicos e a degradação humana na Era Vitoriana (século XIX). A Revolução Industrial, as crises internacionais, o desenvolvimento de tecnologias como o vapor (steam em inglês) abriram possibilidades para a utilização de personagens reais e fictícios para recriar a História como obra de ficção.
Sobre a Obra:
Explicar o movimento literário Steampunk não é uma tarefa simples. Eu poderia dizer simplesmente que ele nasceu no final da década de 80, início da década de 90, nos Estados Unidos, que é subgênero do CyberPunk e que também se enquadra no subgênero literário conhecido como História Alternativa.
Isso, contudo, não ajuda muito. O que, afinal de contas, vem a ser o Cyberpunk?
Uma antítese das visões utópicas da Ficção Científica de meados do século XX, nas quais futuro é igual a evolução sócio-cultural. O Cyberpunk é um subgênero da ficção que trabalha a idéia de que, se nossa sociedade seguir seu curso atual, o futuro próximo será um lugar onde o capitalismo predatório impera ao lado alta tecnologia e o nível de vida geral é péssimo. Daí o nome cyber, da tecnologia avançada, do ciberespaço, onde muitas das estórias se ambientam, e punk, da visão negativa em relação ao desenvolvimento social, da degradação do indivíduo.
A idéia do Steampunk, portanto, foi pegar esse conceito de domínio tecnológico e degradação social e ambientar as estórias na Era Vitoriana (basicamente no século XIX), quando, com a Revolução Industrial, as crises internacionais e o desenvolvimento de tecnologias como o vapor, steam em inglês, o motor a explosão, a corrida pelo domínio dos céus e os primeiros passos no campo da eletricidade, abriu-se uma gama de possibilidades para trabalhar personagens reais e literários e retrabalhar a História, criando algo nunca visto.
Juntando esses elementos, temos o Steampunk.
Gianpaolo Celli, organizador
Orelhas da Obra:
O trabalho de organizar uma obra como essa é muito árduo. Sei o quanto Gianpaolo Celli recebeu de material, tendo que abrir mão de bons contos em favor da uniformidade da obra e do conjunto final. Como o Steampunk é um gênero narrativo muito bem definido, é difícil conseguir variações que ainda assim mantenham a linha necessária para agradar tanto aos leigos como aos puristas.
Gianpaolo Celli trouxe uma história clássica, com referências históricas reais misturadas com ação e intrigas, envolvendo sociedades secretas e o prelúdio do que se tornou a guerra Franco-Prussiana. Fábio Fernandes apresentou uma adaptação primorosa do complexo de Frankenstein, com uma visão fascinante de um futuro onde a sociedade divide seu espaço com a maquinidade. Antônio Luiz rompe as amarras do metal, trabalhando avanços em outra área de estudo, com ambições até mesmo maiores e mais perigosas: a medicina. Alexandre Lancaster cedeu uma narrativa com ares de ficção científica, onde a ciência aponta que somente pode ser vista com simpatia se for inofensiva, caso contrário, torna-se uma maldição. Roberto Causo transporta o leitor para uma viagem repleta de escaramuças pelas selvas de nosso país, mas não entre as árvores, mas acima delas, mostrando Santos Dummont de uma forma inusitada. Claudio Villa arremessa o leitor para o mar, singrando suas águas acima e abaixo, em busca de um tesouro que leva o leitor aos ares do terror lovecraftiano. Jacques Barcia nos dá um conto “estranho”, unindo o drama da guerra, máquinas quase humanas e seres inacreditáveis da mitologia em um caldo que realmente proporciona uma nova criação. Romeu Martins transporta o leitor para um ambiente de faroeste a brasileira, com o clima típico desse estilo de folhetim, mas com heróis e bandidos extremamente vaporosos. E Flávio Medeiros encerra as páginas da obra com chave de ouro, mostrando os clássicos dirigíveis e submergíveis em um drama de honra que certamente agrada muito aos apreciadores do gênero.
Posso dizer sem risco de errar que esta, além de ser a primeira obra brasileira do gênero, será durante muitas décadas a mais representativa e também a mais ampla apresentação do Steampunk no país.
Richard Diegues, escritor
Autores e obras:
Gianpaolo Celli – O Assalto ao Trem Pagador
Fábio Fernandes – Uma Breve História da Maquinidade
Antonio Luiz M. C. Costa – A Flor do Estrume
Alexandre Lancaster – A Música das Esferas
Roberto de Sousa Causo – O Plano de Robida: Un Voyage Extraordinaire
Claudio Villa – O Dobrão de Prata
Jacques Barcia – Uma Vida Possível Atrás das Barricadas
Romeu Martins – Cidade Phantástica
Flávio Medeiros – Por Um Fio