Marcando a estreia de Maira M. Moura na literatura, O jardim animado surpreende exatamente pela maturidade. A voz peculiar que Maira constrói ao longo de seus nove contos aparentemente independentes é uma voz que evoca um universo à la Neil Gaiman e deixa escapar uma ou outra herança de Allan Poe, mas ultrapassa – e muito – essa junção.
Na mistura inusitada, a narrativa segue abraçando elementos até então opostos (ou, no mínimo, de combinação inimaginável), indo da mitologia grega a Jorge Ben Jor, de sereias fantasmáticas a alienígenas com máscaras de tragédia grega no lugar do rosto. Em comum, personagens que – tragados pelo absurdo da vida – parecem desistir de questioná-lo e, ao invés disso, nutrem uma espécie de consciência do inevitável.
Se a ironia é a possibilidade de dizer duas coisas opostas ao mesmo tempo, é precisamente aí, nesse ponto de encontro entre ambos, que os personagens de Maira se desenvolvem: melancólicos e cômicos, sombrios e inofensivos. Fantasiosos e, ainda, estranhamente verossímeis. Maira, na realidade, não apenas diz duas, mas múltiplas coisas ao mesmo tempo, tornando O jardim animado um labirinto desdobrável e infinito em que o leitor encontra muito além do que pensava estar procurando.
Maíra Ferreira
Contos / Fantasia