Os presidentes brasileiros não costumam registrar as impressões colhidas ao longo de sua vida pública. Uma excessão foi Ernesto Geisel, conhecido por sempre ter evitado falar com a imprensa e com historiadores. Ao longo de muitas horas de entrevista ao CPDOC, Geisel narrou sua história: infância, formação profissional e intelectual, funções na administração pública e experiência no Exército. A parte central da entrevista refere-se a sua participação no regime militar, principalmente durante o período em que ocupou a presidência da Replública.
Encontramos aqui suas apreciações sobre a conspiração contra o governo João Goulart, o desempenho dos vários governos militares, a guerrilha, a tortura levada a cabo pelos órgãos de informação das Forças Armadas, o terrorismo de direita e a linha dura. Em relação a este ponto, o episódio da demissão do ministro do Exército, Silvio Frota, em 1977, ocupa uma das partes mais relevantes do livro. Importantes também são as críticas ao empresário brasileiro, ao “imperialismo americano” e às privatizações, bem como a avaliação sobre o Exército Brasileiro, antes e depois de 1964, a intervenção do Estado na economia e o desempenho dos governos civis da Nova República.
O livro, em suma, suscita debates, reaviva paixões aquietadas pelo passar dos anos. Ele nos dá a visão de alguém que esteve dentro do poder, ditando as razões de Estado para uma nação ávida por mudanças mas também sequiosa pela democracia que a ditadura cassou.