A descolonização africana não terá sido apenas um acidente tumultuoso, um estilhaço à superfície, o sinal de um futuro a subtrair-se? No presente ensaio crítico Achille Mbembe demonstra que – para lá das crises e da destruição que muito afectaram o continente desde as independências – novas sociedades emergem, concretizando a sua síntese a partir da reconstituição, da distribuição das diferenças entre si e os outros e da circulação dos homens e das culturas. Esse universo crioulo, cuja trama intrincada e invariável oscila incessantemente entre uma forma e outra, constitui a base de uma modernidade que o autor qualifica de "afropolitana".
Obviamente que é necessário desencriptar essas mutações agricanas, confrontando-as também com as evoluções das sociedades pós-coloniais europeias – designadamente a francesa, que descolonizou sem se auto-descolonizar – para acabar definitivamente com a raça, a fronteira e a violência que continuam arraigadas nos imaginários de ambas as margens do Mediterrâneo. Eis a condição para que o passado comum se torne, finamentalmente, num passado partilhado.
Escrito num tom que tem tanto de moderado quanto de incandescente e muitas vezes de poético, o presente ensaio constitui um texto essencial do pensamento pós-colonial em língua francesa.
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