Pequod

Pequod Vitor Ramil


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Pequod





Um avô e uma avó, um pai e uma mãe, o filho e as filhas. Principalmente um filho e seu pai. Uma cidade ao Sul, outra ainda mais ao Sul; una playa uruguaya e um navio há anos afundando. Uma raiz remota na Galícia. A poesia, o tango, o delírio metódico da criação, o Dr. Fiss. Muitos dias frios, muitos chuvosos. O quarto das aranhas. A sala dos espelhos. Goteiras pela casa toda e um relógio na parede da saleta.

O filho relembra, ou julga relembrar, a história do pai. A sua história com o pai. O filho conta a experiência da perda: da ingenuidade, da infância, da lucidez do pai, do próprio pai. O filho se percebe um satélite do pai. O filho recorta um pedaço do tempo para contar, rememorar, digerir a experiência.

Com tais ingredientes Vitor Ramil lida para criar esta novela única no cenário recente do país. Claro, ninguém duvidava que o autor de tantas canções geniais fosse capaz de criar literatura -que, como sabemos, também é um jeito de dizer. Com um pé na disciplina aprendida no universo da canção popular, outro na inventividade característica de seu trabalho ousado e renovador, Vitor é aqui um artista da palavra, para além dos limites do pop.

Obra de arte, Pequod significa mais do que alcançamos dizer. Aqui está a "estética do frio", fórmula de Vitor para enunciar o diálogo concentrado e infinito entre o pampa ondulado e aberto e a cidade ao sul da América. Aqui está a inteligência da loucura, que Vitor personificou em vários momentos, em Joquim, no Barão de Satolep, nos "loucos de cara". Aqui está uma reflexão artística sobre o tempo, este senhor tão bonito que Ahab presumia controlar e que o narrador quer entender. Aqui está a loucura da inteligência, nas metáforas destemidas da narração, no poder despudorado e involuntário de Ahab, na delicadeza sofrida do filho. (Não esquecer: Ahab, o obstinado Capitão do navio Pequod, que Herman Melville fez existir para caçar Moby Dick.)

Coração na mão, palpitante, o narrador nos conduz neste percurso tão dolorido e tão inescapável da busca da diferença (e da afirmação da semelhença). E quando nos diz, a horas tantas - "E se foi, pronto e maduro para seu destino, antes que percebêssemos que se tinha ido" -, aí então nos damos conta de quão próximos estávamos deste Ahab, que a memória não apaga, e Pequod eterniza.


Luis Augusto Fischer

Ficção / Literatura Brasileira / Romance

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