Escrevo para abrigar-me das tristezas, como chuva que me acontece e me inunda inesperada. Para além somente vivê-las, venho para buscar seus verdadeiros pais e devolvê-las à paternidade que acreditei por tanto tempo minha, desde que as encontrei no meio do peito, ao final do poema, no final de semana, entre os dias iguais. Disseram-me os outros que pelas semelhanças cabiam-me, e eu, sem saber o que dizer, levei-as comigo. Consolo-me na palavra que as enfrenta, na beleza que as afasta, numa memória que me inocenta, num silêncio que as dissolve e me justifica. Aguardo-,me feliz nas reticências. Ali, escrevo bênçãos contra os azares. Ali, espero-me no outro.
À beira das palavras, respiro melhor.
Crônicas / Poemas, poesias