Salmo

Salmo - romance-meditação sobre os quatro flagelos do Senhor, de Friedrich Gorenstein (1932-2002), escritor, dramaturgo e roteirista de Andrei Tarkóvski, sem dúvida é um dos romances mais complexos da literatura mundial. O principal componente do romance é a voz do Altíssimo, na tradição bíblica, que fala através dos profetas. Como já o havia feito Mikhail Bulgákov em O mestre e Margarida, surge na realidade soviética um enviado do céu. Este enviado é Dã, o Anticristo, que aparece entre falantes da língua russa, percebido pela população como um judeu de fora, um forasteiro, que fora enviado no período da realização dos grandes flagelos divinos (a fome, a espada, a luxúria e a doença) no país. Em seu projeto mais ambicioso, o autor certamente delineia uma polêmica com Dostoiévski ao eleger o Anticristo como seu herói: este não surge como inimigo de Cristo, mas como filho de Deus e seu irmão. Façanha assombrosa e intrigante, é uma espécie de Fausto russo, em que são tratados temas gerais, em especial a questão judaica, mas não só. As cinco partes do romance se passam entre os anos 30 e 70, período de provas terríveis para os russos e ucranianos, durante o qual o Anticristo é testemunha de momentos decisivos da história soviética.

Ficção