Os contos de Ayres são singulares, se tornam únicos quando se recusam a seguir a estrutura tradicional do gênero, optando pela construção de uma obra intimista. A subjetividade que se levanta de cada página surge por meio de um lirismo que se forma vindos da fonte da memória; essa memória surge do contato com as sinestesias dos cheiros, dos aromas, por isto, o nome: embalsamadas.
Os temas presentes nesta obra falam da solidão, saudade, sentimentos que se tornam avassaladores quando estorvados no coração, amplificados por um desprovimento de contato físico. Outro recurso inusitado de Ayres é a utilização dos termos da matemática, comum se é deparar com as palavras: números, álgebras, equações, funções lineares, cálculo, zero; quem sabe esta ciência represente o desejo por harmonia, um equilíbrio interior.
Como bem apontado pelo professor e estudioso Luís Antônio Contatori, o contista Ayres recorre, frequentemente a metáfora de Sísifo. Na mitologia é ele representado como a simbolização da luta e da batalha, intermitente; se associado à vida Sísifo se torna a personificação da trajetória humana, como se vê nos trechos de Ayres,” Dias difíceis são predominantes e Sísifo continua escalando a montanha com aquela pedra”.
Embora sejam, também, trabalhadas temáticas sociais, nestes contos, as referências à ditadura, ou a escravidão, são tomadas pelo viés, subjetivo, assim sendo, quando um escravo surge como personagem, é o caráter lírico do seu canto que desperta no autor a consciência da gravidade social apontada. Este fluxo paraboloide é um giro pessoal realizado para se falar de sentimentos e realidades universais, uma miscelânea de contos, personagens e poesia.
Contos