“O Medo que me Amanheceu” é um algoz espreito que vem retirar a luz do fulminante nascer do sol, na vida de tantos, acontecem eventos melancólicos que são cada vez mais comuns; as doenças psíquicas. Nesta obra, é a vez da autora narrar como foi perceber o seu querido pai se retirando da alegria quente, antes familiar e do contato com o mundo, para cair nas teias da depressão.
E a autora diz que a poesia sempre a tangeu de certo modo, porque mesmo quando ela pega seus escritos antigos percebe a expressividade de uma poeta; uma poeta um tanto melancólica, no entanto, não há vergonha. Vergonha nenhuma em estar triste, a escritora cita Nelson Rodrigues para destacar a importância do desabafo “a grande dor não se assoa, não usa lenço, não se preocupa com a coriza”.
Nos aspectos formais percebe o caráter sonoro que se destaca entre outras técnicas, as pontuações e o fluxo intenso que se alterna metaforizando uma garganta com potencial para canto, conseguindo entoar diferentes pausas e brincar com a intercalações de frases harmônicas, semelhantes, “tempo, ele é conivente, nessa história ninguém é inocente. O sofrimento maltrata, culpa, desrespeita, devasta o tempo”
Este medo da dor está entre família como herança dada pelo pai, sutilmente a autora compartilha com o leitor o tamanho da dificuldade para superar os traumas fixados, parecem mesmo que eles se clam à memória. Mas não há desistência, há apenas desabafo e uma vontade que se expressa confiante no abrigo das palavras dizendo “é preciso virar a página. É preciso virar a página, não seja covarde, é preciso virar a página.”
Poemas, poesias