As Feridas do Cotidiano (1 #1)

Os contos de “Feridas do Cotidiano” são estruturados de forma a mostrar um personagem, o qual encarna, enquanto representação de sua história singular, pessoas comuns, as quais são, cotidianamente, observadas pelo autor em um metrô, ou nas ruas da cidade. O escritor fala abertamente sobre o seu interesse nesta história pessoal destes entes desconhecidos, e principalmente, o que lhe toma prazer, é imaginar qual a misteriosa ferida cotidiana que está aberta no peito das pessoas que por ele passam.
Tendo em mente o elemento de desconhecido que há em toda relação superficial, a qual é formada unicamente por relações de reconhecimento do outro, cabe a autor utilizar sua imaginação para criar enredos e assim poder sondar, intuitivamente, quais são as dores cotidianas dos seus personagens, Dona Carmelita pode ser uma mulher ansiosa e solitária, seu Francisco Assis pode ser um homem que perdera sua amada, José pode sofrer das dores de ossos.
Estas histórias curtas são suficientes para que se desenhe o personagem possibilitando que se sonde a origem de sua ferida e além de tudo para que se poetize, se dramatize, e fantasie as dores da vida de cada um dos seus caracteres. Para falar de amor o autor diz: “a mordida inchava e o coração no peito se quebrava em pedaços como uma cadeira velha”, vê-se que a imaginação dá contornos aos sentimentos por meio de comparações o que acentua ainda mais a intuição do autor que parece mergulhar em um oceano de imaginação como se submerso nas águas azuis e melancólicas dos olhos de seus personagens, que são por sua vezes, seres de “memórias, segredos e dores”.

Contos