O sobrenome de Isabel evoca, inevitavelmente, o de seu primo, o presidente Salvador Allende, morto durante o golpe militar que implantou por décadas uma feroz ditadura no Chile e aniquilou o projeto de uma sociedade menos desigual. A reconstituição da história pessoal e coletiva integra-se ao tecido romanesco nessa premiada obra de estreia que lançou o nome da autora em 1982, revelando uma fome de ficção nutrida da intenção de testemunho, reflexo da experiência dela como jornalista. O fôlego de A Casa dos Espíritos, no entanto, ultrapassa as margens da reconstituição, inerente ao romance histórico, e desdobra-se em imagens que impregnam a leitura. Os destinos das mulheres indóceis da família Del Valle contrastados com o mandonismo de Esteban Trueba não sustentam apenas uma saga de emoções fortes. Suas curvas também reescrevem a história latino-americana e revelam como estamos condenados a um passado perpétuo, no qual cada movimento adiante sempre nos devolve a duas casas atrás.
Ficção / Romance