O romance "A engenhosa tragédia de Dulcinéia e Trancoso" entrega o que podemos chamar de uma novela de cavalaria para tempos pós-modernos (dentro da lógica nordestina). W. J. Solhase abastece de aspectos regionalistas, sob a figura fulcral de Ariano Suassuna, e da ambivalência humorística de Miguel de Cervantes para tecer uma rede de transcriação de mitos – o poeta como profeta – e retrabalho de gêneros discursivos medievais, com forte emulação aos princípios humanistas, filosofantes, ao trovadorismo e às narrativas orais.
A obra se vale do encadeamento impressionante da musicalidade dos cordéis (a irreverência, as marcações dramatúrgicas, o fluxo lírico preciso), entregando um sertão estilizado, mas não um sertão impossível, de beleza forçada. Solha não se esquece do sertão seco, duro, violento, trágico. São jogos contrastantes de palavras – “de cancros e caranguejos” – com o melhor das apropriações do cinema, da filosofia, dos aspectos religiosos da cultura nordestina, do universo dos vaudevilles.
Também merece realce o trabalho interno com os hábitos, com as cores, com os contornos, “a nordestina ousadia”, a inteligência e astúcia que Solha imprime como se estivéssemos diante de uma procissão ou de uma companhia de teatro itinerante.