Nas asas de sua ilustração, as páginas se abrem vistosas
para os casulos de possibilidades para uma história inquietante e poética que gira em torno de uma cena narrativa mínima: a menina de tranças e vestido barrado de flores sobe por uma haste verde e sem espinhos até
alcançar uma rosa em botão e, lá do alto, abre os braços para uma viagem nas costas de uma borboleta. O fim,
como o começo da aventura, obedece à lógica dos sonhos e das imagens que a retina acumula, durante a vigília, apenas por admirar a visão. Imagens que se repetem
como o estribilho de uma canção, mas, a cada vez reiteradas, já possuem uma força e um sentido diferente... e como nos sonhos, os espaços não sucedem acontecer um após o outro porque aqui se transformam em requadros simultâneos:
um espaço contido dentro de outro,
um espaço abrindo-se a partir de outro.
Uma antiga fórmula alquímica, aliás, dita que tudo que
há em cima, há em baixo, como o mar e o céu de reflexos.
Porém, conforme o olhar atravessa as páginas,
a composição das imagens tem modificada o efeito de ilusão, pois existe um ponto de apoio a ser descoberto para o olhar não se perder: é um ponto de partida para a leitura:
quase todas as páginas exigem, de modo nada convencional, que as ilustrações sejam apreciadas de baixo para cima. Livro-casulo
que é também sua própria metáfora para fazer
o leitor voar, buscando nexos para uma interpretação. Casulos que resumem o asilo para alegrias e tristezas da
menina qual mindinha num mundo de grandes e pequenos, de muitas e nenhuma asa, no exílio de si e dos outros.
Comentários de
Peter O'Sagae
Dobras da Leitura
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