Contos da tartaruga dourada

Contos da tartaruga dourada Kim Si-Seup




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O conjunto dos Contos da tartaruga dourada, escrito no século 15, é considerado o ponto fundador da prosa coreana. Conectadas por ideias sobre o amor romântico, a interação entre o mundo dos vivos e o dos mortos e comentários sobre política e religião, as histórias forneceram um modelo de romance que seria usado em séculos por vir.

O livro, recheado de referências aos clássicos chineses, combina a prosa às poesias e canções, a literatura fantástica à filosofia, a erudição à sensualidade. A qualidade lírica das frases e a descrição sensível dos eventos rendem ao conjunto a sofisticação de um romance. Outro ponto de interesse no estilo narrativo de Kim Si-seup é o sincretismo entre elementos xamânicos, budistas, taoístas e neoconfucionistas.

Um jogo de varetas no Templo das mil fortunas traz um protagonista que desafia o Buda pela promessa de um amor eterno. Em Yi espreita por cima da mureta, a união improvável de um casal é atravessada pela turbulência da guerra. Embriaguez e deleite no Pavilhão azul mostra o encontro extranatural de um poeta com uma descendente da realeza. Visita à terra flutuante das chamas do sul tem como centro um embate de ideias filosóficas e religiosas entre um estudioso e um rei do submundo. Já O banquete esvanecido do palácio do Fundo das águas conclui e arremata a reunião revisitando temas das histórias anteriores e mostrando um personagem em caminho de iluminação.

As histórias se passam em diversos locais dos reinos coreanos e os protagonistas se veem imersos em experiências fantasmagóricas inexplicáveis a eles e alienantes para aqueles que os rodeiam. Em meio às aventuras sobrenaturais, o autor também oferece detalhes da sociedade da época e dos modos de vida considerados louváveis – que os personagens apresentados nunca conseguem atingir e com os quais se chocam na busca pelos seus desejos. O encontro entre o real e o irreal marca um descompasso entre as formas de realização pessoal e a estrutura política e simbólica vigente, conflito comum em épocas de ruptura, como a que os reinos coreanos viviam. Estes fios condutores podem permitir também que o livro seja lido como a história caleidoscópica de um só personagem.

O fascínio das narrativas se apresenta tanto pelo seu conteúdo quanto pelo contexto histórico e pela vida de seu autor (que acredita-se ter servido de inspiração para as ficções). A circulação da obra coincidiu com o raiar do Estado coreano: o domínio da dinastia Goryeo, o Reino da Alta Beleza (918–1392), foi tomado pela dinastia Joseon, o Reino das Manhãs Calmas (1392–1897). A drástica mudança foi principalmente filosófica: findaram-se quase mil anos de domínio budista e estabeleceu-se um Estado neoconfucionista – eis aí a ruptura que fornece a tensão de todo o volume e que faz com que esta seja a primeira obra de ficção por um autor coreano.

Na década de 1470, quando estima-se que Kim Si-seup tenha se afastado da corte e peregrinado à Montanha da Tartaruga Dourada para compor as histórias, a prosa de ficção não era algo apreciado – para os ideais confucionistas, só eram justificáveis escritos de louvação filosófica e ideológica. Na época, apesar de o alfabeto fonético coreano (hangeul) já ter sido promulgado, a literatura era feita com os caracteres chineses, usados na versão original destas histórias.

O feito extraordinário do autor foi, portanto, criar narrativas fantasiosas que servissem como expressão de seus ideais sobre o amor, a poesia, a política e as artes, ao mesmo tempo em que apresentava a erudição necessária para que as obras pudessem entrar no cânone da nova nação. Suas histórias foram compiladas na Ásia em diversas vezes, mas acabaram perdidas. O resgate contemporâneo da obra na Coreia se deu em 1927, quando o poeta Choi Nam-sun encontrou a obra no Japão e a publicou-a na revista literária coreana Gyemyeong. Só em 1999 foi descoberta, numa biblioteca chinesa, uma edição coreana em xilogravura datada do século XVI.





Contos da tartaruga dourada

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Resenhas para Contos da tartaruga dourada (15)

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Muito interessante!

"Contos da Tartaruga Dourada" é considerada a primeira obra de ficção coreana em prosa, escrita no século XV. O cenário em que esses contos foram escritos era o da consolidação do Estado Coreano, durante a transição das escolas de pensamento do budismo e do confucionismo, e esses elementos estão fortemente presentes nesses contos repletos de fantasia, poemas (apesar de, com certeza, se perder muita da magia deles por conta de não estar em sua língua original), histórias de amor entre ...
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