Aos quinze anos, Will conhece intimamente a violência. Ela está no dia a dia do bairro, nos avisos para não voltar muito tarde, nos sussurros dos vizinhos sobre mais uma pessoa que foi morta. Sussurros que agora falam da família dele, de seu irmão mais velho, seu herói.
"Daqui pra baixo" é a história de uma vingança contada pelo olhar do garoto cujo irmão foi baleado na rua onde ele mora. Um romance escrito em verso, que se passa em pouco mais de um minuto: o tempo que o elevador do prédio leva pra descer até o térreo, onde Will vai encontrar o assassino do irmão, vai apontar pela primeira vez uma arma na cara de alguém e vai atirar.
São só 67 segundos, mas nas circunstâncias de Will isso é muito tempo. Ele rememora as regras do bairro, sob as quais foi criado. A número 1 é não chorar. A número 2, nunca dedurar ninguém. A terceira e mais importante, se fazem algo com você, você tem que se vingar. Quem as ensinou a Will foi Shawn, seu irmão, e agora ele foi morto. As regras são o que restou.
A cada andar, a cada parada do elevador, a porta que se abre e se fecha rebela um rosto diferente, todos do passado de Will. Nenhum o julga nem evoca moralismos, mas conforme eles surgem e vão ocupando a cabine, ocupam também os pensamentos e sentimentos de Will. Como exatamente elevai manejar aquela arma? Ele sabe com certeza absoluta quem foi o assassino do irmão? Ele não vai errar o tiro? Cada rosto tem uma história de vida e de morte. Will, em questão de segundos, vai definir a dele.
Jason Reynolds escreveu "Daqui pra baixo" originalmente em prosa, depois em verso, e a narrativa em staccato que resultou dessa experimentação faz a emoção - a confusão, a revolta, o medo - do garoto armado que sai para vingar o irmão crescer também no peito de quem lê. Um livro impossível de ignorar.
Sirenes pra todo lado,
cada uivo cortando
o barulho da cidade.
Mas não os gritos.
Os gritos sempre são
mais altos que o resto.
Até que as sirenes.