"Em 'diabolô', primeiro livro de contos de Nilton Resende, o terrível se arrasta com a languidez de uma velha serpente. Somos expostos, sem defesa, ao momento definitivo: nas crianças que mentem (e moem pó de vidro); nos mulungus que se evolam na imaginação de um menino.
Somos obrigados àquele curso, o da serpente langorosa, e conduzidos com requinte ao inoculado veneno. Levados, sim, por Resende em seus labirintos, teias de linguagem acurada, em que o simbólico avulta e nada se concede; infância e inocência, no dédalo, perdem-se.
Personagens, como nós, vencidos pelo oculto, sem Ariadne a indicar o caminho de volta. Quase cegos. Por detrás de portinholas e frestas, o bote é cálculo preciso: da inocência perdida, da infância cindida, nada se recupera. Separamos, fio a fio, os cabelos da Medusa."