Se é possível conhecer uma época através de suas histórias de amor, "O Convidado Surpresa" (2004) é o retrato deste início de milênio. Seu autor, o francês Grégoire Bouillier, se insere em uma tradição confessional que em nossos dias ganha a tendência à espetacularização da intimidade e a encenação pública do eu. O livro vem se juntar a "Carta a D." (Cosac Naify, 2008), em que o filósofo e escritor André Gorz (1923-2007) narra sua paixão pela mulher, Dorine, nos quase sessenta anos em que viveram juntos. "O Convidado Surpresa", por sua vez, é a história de uma única noite, a do encontro entre Bouillier e a artista conceitual francesa Sophie Calle.
A trama começa quando, numa tarde fria de domingo, o telefone acorda o autor-narrador e ele reconhece a voz da mulher que o abandonou cinco anos antes sem nenhuma explicação. Ela o convida para o aniversário de uma amiga que costuma celebrar a data chamando para a festa o número de pessoas correspondentes à sua idade e mais um, o convidado surpresa. Bouillier é o convidado surpresa da vez; a aniversariante é Sophie Calle. A relação terminou tempos depois com um e-mail enviado por Bouillier, onde a última linha da mensagem dizia: “prenez soin de vous” (“cuide de você”). A frase deu origem à famosa exposição de Calle, exibida na Bienal de Veneza em 2007, que reuniu depoimentos de 107 mulheres sobre a carta de rompimento.