Em Outrora: Crônica de uns dias perdidos, primeiro livro de Jayme Mathias Netto, o poeta, pintor, escritor, filósofo e artista diletante dedicou-se a uma curta estória que reorganiza as suas poesias, prosas e aforismos como pano de fundo, colocando para fora múltiplas vozes, com uma escrita sem limites, cuja linguagem às vezes falta. Ele utiliza pseudônimos que foram seus companheiros desses vários anos na conquista expressiva e se deparou com a estranheza da própria língua, enquanto tentou decifrar o que vem de dentro e que foi, aos poucos, ganhando força. Assim, balbuciou e gaguejou em forma de experiência linguística, quando é possível reverter a ordem do pensamento e só dessa forma conseguir enxergar o que há dentro, provocando no leitor o fato de que a parte de dentro dele seja também tocada e se irradie em forma de outras experiências possíveis. Tudo isso se expressa no enredo do pacto ritualístico entre Marcel Leônidas Padilha e Assis de Sá Carneiro. O distanciamento das relações humanas faz com que Marcel perceba que não consegue mais sequer pronunciar uma palavra, se não por meio da escrita, dirigindo-se assim, após o pacto, a um deslocamento radical da sociedade contemporânea. No fundo, esse livro é um ritual linguístico aos que se interessam na busca frenética de si.