Muitos conhecem a obra de Jane Austen pelas dezenas de adaptações de seus romances para telas de TV e cinema, livros como Orgulho e Preconceito, Razão e Sensibilidade ou Emma. As duas filmagens de Persuasão revelam apenas parte das qualidades deste romance, o último da escritora inglesa, também o mais reflexivo e lírico, marcado pelos pensamentos de uma heroína mais madura, parecida com a própria Austen. Aos 27 anos, Anne está à beira de ser dada como solteira irreversível. Influenciada por amigos e por seu pai, um baronete fútil quase falido, rejeitara quando mais jovem o casamento com um oficial da Marinha, homem que amava, mas então sem fortuna e tido como socialmente indigno. Em Persuasão, a escritora narra outra vez reviravoltas de histórias amorosas, desencontros provocados por esnobismos e conflitos entre pequenos fidalgos, nobres e alta classe média. Austen volta à sátira social leve, mas profunda, e às críticas à estupidez de aristocratas, reforçada em Persuasão por um elogio a quem sobe na vida por mérito, raro na época.
Vinicius Torres Freire - Colunista da Folha