As pessoas coçaram atrás da orelha. Depois, porém, as pessoas coçaram atrás da orelha de novo. Por fim, as pessoas ficaram com o lado de trás da orelha inteiramente escalavrado. Quando os primeiros Sobrescritos apareceram, enigmáticos, na coluna Todoprosa, de Sérgio Rodrigues, no bom e velho site NoMínimo, as pessoas suspeitaram que eram minicontos à clef, dispostos a esculhambar de vez o mundo das letras. Quem seria o “escritor de barba espessa e fama rala?”, alarmaram-se alguns. E o inesquecível Lúcio Nareba, “lenda da blogosfera literária nacional”, quem haveria de ser?, sussurraram outros.
Felizmente, houve também quem percebesse de cara que todas essas figuraças, incluindo Demóstenes Bastião, o que escrevia em preto-e-branco, ou o latinista Cecilio Giovenazzi, “o maior memorialista do onanismo no Ocidente”, habitavam era a interseção entre a capacidade de observação e o talento para fabular de Sérgio, crítico-romancista. Daí elas tanto incomodarem quanto permanecerem na memória bem após o log off, caso do primeiro texto da coletânea, no qual a blogueira reencena Love story com o estruturalista.
Hoje, portanto, quando a sempre prestigiosa Todoprosa é navegável via IG, mais pessoas já leem os Sobrescritos como as delicadas peças de ironia, bibliofilia e alguma tristeza que eles de fato são. Embora algumas das pessoas, por via das dúvidas, carreguem sempre um band-aid para o lado de trás da orelha no bolso da frente das calças.