Nany 22/02/2024Ensaio sobre a cegueira é um livro de tirar o fôlego a todo momento. Em seu enredo, temos um homem que estava dentro de seu veículo, esperando o semáforo abrir. Ele ouviu as buzinas do trânsito, mas, em um dado momento, se vê cego, e o pavor toma conta. Recebe ajuda e procura um oftalmologista junto à sua mulher. O médico diz que não há nada de errado com seus olhos; eles estão perfeitos e o libera, pedindo alguns exames.
Logo, temos a perspectiva do médico, que percebe rapidamente que também está cego. Não é uma cegueira normal, onde tudo é escuro, mas uma cegueira onde se vê tudo branco.
Logo percebe-se que a cegueira é contagiosa. Não se sabe como ocorre a contaminação, mas uma grande massa de pessoas relata perder a visão, e todas são encaminhadas a um manicômio. Não por serem loucas, mas era o único lugar que o governo encontrou para fazer a quarentena dessas pessoas até descobrir como curar, qual o meio de contágio e como tudo se iniciou.
Os cegos são instruídos por algumas regras, não podendo sair, e a comida é deixada do lado de fora para ser buscada. Aos poucos, vamos vendo o caos que se instala dentro deste manicômio, ainda mais quando se percebe que há alguém que pode enxergar no meio deles. Vemos a crueldade humana; mesmo perdendo a visão, o ser humano arranja um meio de ser cruel, vivendo sem "lei", onde os soldados se recusam a entrar ou ter qualquer tipo de contato. Será que haverá esperança?
Ensaio sobre a cegueira possui um enredo cativante, que prende, pois o desenvolvimento é instigante. Há conteúdo pesado, mas nada explícito. Neste momento, chorará de raiva. É um livro para ficar apreensivo, e que escancara a depravação do homem que, sem lei, reina aquele que possui mais poder. Na trama, temos alguns personagens centrais, como o primeiro cego, o médico, a mulher do médico e alguns outros, não ditos nomes, pois de que isso adiantaria? Na história, acompanhamos a angústia daqueles que nada podem ver.
A escrita do livro é diferenciada. José Saramago não usa pontuações tradicionais; não há travessão ou aspas para simular frases. Inicialmente, é confuso, mas vai pegando o ritmo com a leitura. É um método que ele adotou. Um leitor compartilhou comigo sua teoria de que em "O Ensaio sobre a cegueira" teria essa forma de escrita, pois um cego escritor estaria contando a história deste livro. Confesso que gostei muito desta teoria, o que faria muito sentido.