jusousan 08/03/2022
Ensaio Sobre a Cegueira
?De tanto vermos, cegamos.?
Dito como um dos grandes clássicos da literatura, Ensaio sobre a cegueira nos apresenta uma história complexa, impactante e angustiante.
O livro retrata uma sociedade que de repente começa a vivenciar uma epidemia de cegueira contagiosa. A partir disso, o governo decide instaurar uma quarentena e os cegos vão sendo isolados em um manicômio antigo. Deixados à margem da sociedade, os acometidos pela cegueira vão tendo que aprender a conviver em uma situação de total descaso e abandono. As coisas, então, começam a sair do controle.
O livro é narrado em terceira pessoa pela única pessoa que no meio do caos, consegue manter a sua visão.
Apesar de ter uma escrita diferente das habituais, caso que muito incomoda e as vezes faz com que leitores não se conectem com o livro, o enredo se sobrepõe. Com trechos fortíssimos, Saramago não alivia os momentos que parecem progredir para o pior cenário possível.
Após finalizar a leitura refleti sobre muitas questões levantadas pelo livro. A primeira frase que me veio à mente fez referência a Thomas Hobbes ? O homem é o lobo do próprio homem? ou seja, somos nosso maior inimigo. O ser humano é mau e egoísta e esse instinto abre caminho para a violência conta o próximo.
É o que Saramago propõe. É o que ele nos entrega. O desconforto nos persegue da primeira à última página. Desde o desenvolver de uma sensação de desespero e confusão causada pelo repentino contágio, passando por momentos claustrofóbicos até, por fim, entrarmos de cabeça em situações extremas. O leitor, mergulhado nas metáforas levantadas, acomete-se não da cegueira imposta nos personagens, mas da visão lúcida da podridão da alma despertada. Humilhações. Repressões. Opressões. O homem defronta-se com seus comportamentos. O instinto animalesco aflora.
A percepção da natureza humana já foi objeto de enredo para várias obras. Acredito que é isso que mais gosto nas leituras que me proponho a fazer. A possibilidade em reconstruir um mundo distópico realista é genial e o Saramago faz isso de forma brilhante, ao meu ver.
Apesar de ser cansativa e não agradável, acredito que a leitura da obra seja necessária. É desafiadora, mas acrescenta em muito.
?Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que vendo, não veem.? Página 310.