Ana Bruno 22/04/2020
Um livro humano
Meu primeiro pensamento ao terminar esse livro foi: Não quero falar sobre ele!
Fiquei mal-humorada mesmo!
Que livro pesado! Que livro nojento! Que livro humano!
Acho que só o que consigo dizer sobre ele é que "é humano".
E, talvez por isso, tenha me incomodado tanto... Não tenho tido muita paciência com a raça humana, não que me exclua dela, mas perceber a capacidade da crueza do ser humano me dói à beça. Não quero ter essa característica dentro de mim.
Observar a condição obscura e instintiva inerente a todos nós, revelada perante uma situação inesperada, caótica e desesperançada, como Saramago nos descreve (de forma brilhante, por sinal), não ajuda a minimizar minhas impressões pessimistas...
O livro é, resumidamente, pesado. Recomendo lê-lo consciente da necessidade de possuir estômago forte.
Num cenário duro, a natureza humana, instintiva, aflora em conjunto com a essência hierárquica visceral do prazer pelo poder, mesmo em detrimento a qualquer indício de dignidade... E, nesse meio, um fôlego de humanidade, representado pela mulher do médico, tenta nos ajudar a manter a cabeça fora dessse mar de desespero. A obrigação moral, de auxiliar em oposição ao verdugo que aflige a todos. E a limitação incapacitante dela que nos angustia mais um pouquinho.
Aff... muito sofrido!
Muitas pessoas analisam esse livro sobre a capacidade de enxergarmos (ou não) a essência do outro. Para mim, esse livro é sobre a essência de todos nós. É sobre olharmos para nós. Nós mal conseguimos ver (e conhecer) a nós mesmos, conseguir "ver" o outro é uma conquista ainda à anos-luz de distância da raça humana... Lamentavelmente.
Outros consideram a obra uma alegoria, o que para mim, cai no mesmo impasse. Poder, egoísmo, sujeição... Independente do contexto, o "outro" ainda é um universo muito escuro e profundo para nós. Em todas as esferas isso se reflete de igual modo.
Bom, leitura de Saramago é sempre uma leitura de Saramago...
Enjoy!